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É só uma questão de gosto? Reflexões acerca da padronização da beleza feminina



A atração física é um evento comum a toda a espécie humana, independentemente de cor, raça, gênero e orientação sexual. Ela é apenas um dos muitos itens que compõe um relacionamento amoroso, mas, por vezes pode ser o passo inicial de uma relação (por exemplo, quando você vê alguém em uma festa e antes mesmo de conhece-la, sente desejo em se aproximar dela, em beijá-la). E, sua aparência física é apenas uma das muitas características que você tem, certo?

Entretanto, atualmente, tem crescido cada vez mais o número de procedimentos estéticos femininos, afim de promover a alteração desta aparência física. O que não seria necessariamente um problema, se partisse de um interesse genuíno seu, sem interferência da opinião alheia e de forma saudável, que não trouxesse riscos de vida. Será que é isso que acontece?

Atualmente, o que é considerado bonito? Uma mulher branca, cisgênero*, magra porém com as curvas certas, estatura mediana, cabelos e olhos claros, nariz fino e pequeno, lábios carnudos, sem rugas, estrias, celulites e flacidez.

Isso até pode ser a realidade de uma pequenina parte das mulheres brasileira, mas, será que abrange toda a diversidade de corpos que o nosso país possui? Com certeza não.

Porém, a mídia (TV e internet) vende a ideia de que esta é a beleza certa, pois estampa todas as propagandas, os melhores papeis em filmes, séries e novelas, ganha os melhores salários e tem a possibilidade de ser desejada por outra pessoa. E, não bastando isso, ainda incita que sim, é possível você ter tudo isso, basta apenas ter "força de vontade".

E este conteúdo nos é apresentado desde muito cedo, já na infância, através dos desenhos animados, dos programas infantis, das novelas que passam todos os dias nas TVs e nos brinquedos que são oferecidos, permeando assim nosso desenvolvimento e construção de autoimagem. Qual a idade que você tinha quando falaram pela primeira vez sobre sua aparência física, seu corpo? Eu tinha em torno de uns 6 anos, pensando agora enquanto escrevo, mas pode ter sido antes.

Considerando que somos seres sociáveis, a nossa construção pessoal também vêm a partir de um olhar do outro, do que o outro julga bonito, feio, certo e errado. Então, podemos dizer sim que a nossa autoimagem é construída desde muito cedo. E se vivemos em uma sociedade que nos ensina que há um padrão, que há algo a ser alcançado para sermos completas, desenvolvemos uma insatisfação quando não atingimos o desejado.

Não é a toa que uma das grandes questões femininas que aparecem em meu consultório é voltado à autoimagem e insatisfação corporal. E atrelado a isto, o sentimento de invalidação e incapacidade nas áreas de estudos, trabalho e relacionamentos.

Agora, vamos refletir: se há uma construção interna do que é bonito e feio, do que é certo e errado, podemos pensar que se sentir atraída por um determinado biotipo físico é uma construção social, certo? Que foi ensinado, tanto à nós mulheres quanto aos homens, afinal, aprendem desde cedo que há corpos bonitos e desejáveis e corpos feios.

Imagino que você já tenha ouvido a frase "é uma questão de gosto", normalmente se referindo sobre a preferência física entre duas ou mais pessoas. Mas, de onde vem este gostar? É algo natural ou foi aprendido a ser assim? Acho necessário colocar ao pensamento essas perguntas, para nos questionarmos acerca do que consideramos belo e aceitável e da exclusão que isto gera.


Esta reflexão faz sentido pra você?



Observações: este texto não abarca questões raciais e de transgeneridade, pois, são recortes que devem ser feitos à parte, pois, sofrem exclusões e violências maiores.


*O termo cisgênero se refere à identificação de gênero de uma pessoa, a partir das suas características biológicas - uma pessoa com vulva que se identifica como mulher.

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